sábado, 28 de fevereiro de 2015

Leonard Nimoy e Mr. Spock



  Leonard Simon Nimoy (26 de Março de 1931 – 27 de Fevereiro de 2015)
 

Morreu Leonard Nimoy, o actor, poeta, músico e fotógrafo norte-americano, que associaremos para sempre à série de ficção científica Star Trek e à personagem de Mr. Spock, o ultra-racional alienígena do planeta Vulcano, cuja saudação "Vida longa e próspera!" entrou na cultura popular, acompanhada da típica saudação "vulcano" (ver imagem à esquerda).

Nimoy nasceu em Boston, Massachusetts, filho e imigrantes judeus-ortodoxos que fugiram da União Soviética, mais precisamente da cidade de Iziaslav, hoje território da Ucrânia.

VIDA LONGA E... ESTÁVEL

A sua carreira começou aos 8 anos, num grupo de Teatro local. Os pais não eram entusiastas da paixão dramática de Leonard, e, como todos os pais, queriam que ele estudasse, para ter uma "vida estável". O pai preferia mesmo que ele aprendesse acordeão, que lhe garantiria sempre sustento, mas o avô acabou encorajou-o a seguir a sua vocação. E ainda bem.

Hora da refeição e horas de caracterização

  
A MENSAGEM DE STAR TREK

Nos anos 60, um elenco tão etnicamente diversificado, só mesmo na ficção científica...

A personagem Spock foi um dos grandes trunfos da série - juntamente com os inesquecíveis Kirk, Uhura, Sulu, Picard, Data, Pavel Chekov, Geordi La Forge e outros membros de uma tripulação diversificada e carismática.

Star Trek exaltava os valores da União e da Paz (a Confederação Inter-Galáctica de Planetas era uma espécie de ONU - mas em bom!), da convivência harmoniosa entre pessoas de origens diversas (algumas extra-terrestres, como Spock), e fazia-nos reflectir sobre a futilidade da violência e da discórdia em face do Imenso Desconhecido que nos cerca.


UMA CARTA INSPIRADORA


O elenco multi-racial de Star Trek foi inspirador para muita gente que se debatia com o preconceito, ainda muito vivo nos anos 60. Uma rapariga "mestiça" (como se dizia na altura), dirigiu uma carta a uma revista juvenil da época, pedindo conselhos para enfrentar situações de discriminação.



Leonard Nimoy, que mantinha uma coluna na publicação, deu-lhe uma longa e calorosa resposta, usando a sua personagem. Aqui vai um excerto:

“Spock aprendeu que poderia impedir que o preconceito o derrotasse. Conseguiu-o cultivando a sua auto-estima e valorizando-se como pessoa.
Ele entendeu que era igual a quem quer que o tentasse humilhar - igual na sua diferença.”
“Quando pensamos em pessoas que deram grandes contributos ao Mundo, verificamos que essas pessoas não estiveram dependentes da popularidade ou da aceitação, porque elas sabiam que tinham algo de importante para dar, ainda que o seu contributo parecesse insignificante. Fizeram o que tinham que fazer e foram aceites, em paz e com amor.”

Nimoy não se apontou a si mesmo como exemplo, mas poderia tê-lo feito. Também ele pertencente a uma minoria especialmente incompreendida e perseguida, imigrante, de família humilde, não se coibiu de viver a sua vida como bem lhe aprouve e de fazer o seu melhor, em tudo. 

Esta ideia, de fazer o que deve ser feito, contra toda a adversidade, é um tema central na cultura e na religião judaica. Talvez Mr. Spock também fosse judeu. De uma tribo perdida nos confins do Espaço.


BONUS TRACK



Kirk e Uhura in love

No showbusiness  já se estava muito à frente, para os padrões vigentes. Os actores que davam vida ao Capitão Kirk e à Tenente Uhura (caucasiano e africana, respectivamente) num intervalo de filmagens de "The Wrath Of Khan", foram apanhados em flagrante delito de namoro "inter-racial".


HOMENAGEM

A série tem legiões de admiradores de várias gerações, e influenciou muitos jovens a seguirem carreiras como a de investigador científico, engenheiro e astronauta. Neste vídeo, os astronautas Mike Fincke (NASA) Luca Parmitano (ESA/Agência Espacial Europeia) falam do legado de Spock:


Nimoy era fluente em Yiddish - o dialecto judaico da Europa Oriental - e membro activo comunidade judaica. Foi narrador do documentário "A Life Apart" sobre o Judaismo Hassidico nos Estados Unidos, e deu vida ao Projeto Shekhina, um estudo fotográfico explorando o aspecto feminino da presença de Deus, inspirada pela Kabbalah, a faceta mística do Judaísmo.

Há quem nunca tenha visto um judeu na vida. Pois bem; se viram o Leonard Nimoy a interpretar Mr. Spock, já viram um. As orelhas em bico não são de série.

Vida longa e próspera, Leonard Nimoy!

E aqui vai um episódio completo, dobrado para Português, e com muito para reflectir:


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