domingo, 18 de setembro de 2016

O médico judeu que escapou ao Holocausto e criou os Jogos Paralímpicos

Não se esqueça de ler o nosso post anterior:

Israel nos Paralímpicos 2016


Clip do filme "Best of Men"/"Os Melhores dos Homens", que celebra a vida e a obra de Ludwig Guttman, o pai dos Jogos Paralímpicos e da terapia pelo Desporto.


Rio 2016: a inspiradora história do médico judeu que deu origem ao movimento paralímpico depois de escapar da Alemanha nazi

 
Para Gutmann era crucial que os pacientes com incapacidades pudessem ter uma vida normal.

O pai morreu num campo de concentração e a irmã numa câmara de gás. Ele conseguiu escapar. 

O ano era 1939, quando o alemão Dr. Ludwig Guttmann, de origem judaica, conseguiu fugir da Alemanha nazi de Adolf Hitler e alcançar o Reino Unido, onde se tornou a pessoa mais importante na criação do evento que hoje conhecemos como os Jogos Paralímpicos.
 

Sem outras posses que não o seu trabalho como neurocirurgião num dos principais hospitais da Alemanha, Guttmann recebeu um visto de refugiado e uma bolsa de estudos para poder estabelecer-se com a sua esposa e os dois filhos em Oxford, onde continuou as suas pesquisas sobre lesões na coluna vertebral.


As notícias sobre os Jogos de Stoke Mandeville propagaram-se com tanta rapidez, que quatro anos depois era já um evento internacional.


A eclosão da II Guerra Mundial abalou a vida de Guttmann, mas também abriu um caminho no seu futuro. 


Graças ao seu passado e ao seu conhecimento, o governo britânico pediu a Guttmann em 1944 para criar e desenvolver o departamento de lesões na coluna vertebral no Hospital de Stoke Mandeville, uma pequena cidade localizada uma hora a noroeste de Londres.

Depois da ascensão nazi ao poder na Alemanha, Guttmann só foi autorizado a exercer neurocirurgia no hospital judeu de Breslau. Mas era o melhor especialista do país.
- Wikimedia Commons

A maioria dos seus pacientes eram veteranos de guerra, que vieram para o hospital para passar os seus últimos dias de vida. 


A expectativa de vida de uma pessoa com lesões na coluna vertebral era de menos de dois anos na década de 40, mas Guttmann conseguiu mudar radicalmente essa estatística graças às descobertas proporcionadas pelas suas pesquisas, que demonstraram que o desporto pode desempenhar um papel preponderante.

Ludwig Guttmann (à esquerda) e o atleta Eric Russell nos Jogos Paralímpicos Toronto1976.
- Wikimedia Commons


"Começámos com ex-soldados, primeiro com jogos simples, como dardos, bilhar ou uma espécie de bowling. Foi assim que vi que os pacientes reagiram, não só fisicamente, mas também psicologicamente", diz o alemão nacionalizado inglês num arquivo de vídeo da BBC. 

Com os resultados positivos, o Dr. Guttman obteve a autorização para incorporar o desporto no tratamento dos seus pacientes, e foi esta a origem daqueles que são considerados os primeiros Jogos Paralímpicos da História, os Jogos de  Stoke Mandeville, em 1948.

Rigoroso e carinhoso
 

Nos primeiros jogos, que foram realizadas em paralelo com os Jogos Olímpicos de Londres, participaram 16 atletas numa só modalidade: tiro com arco.

No Rio de Janeiro há mais de 4.000 atletas, de 170 países, um aumento que reflecte o quão importante foi a contribuição de Guttmann e do Hospital de Stoke Mandeville, que se manteve sempre fiel às suas raízes, promovendo o desporto como uma ajuda para os seus pacientes.


Para a atleta britânica Tanni Grey-Thompson, as pessoas com deficiência estão em dívida com o Dr. Guttmann.


Um deles, Phillip Lewis, que participou nos Jogos Paralímpicos entre 1964 e 1972, recordou a influência que Guttmann teve sobre ele:

"Era um tanto rigoroso com a sua equipa e com os pacientes", disse Lewis à BBC. Passou 10 meses em Stoke Mandeville, após ter fracturado o pescoço num acidente de carro aos 24 anos.

"Mas acima de tudo tinha um enorme carinho. Ele inculcava perseverança, queria o melhor para nós, queria que encontrássemos um caminho".



Os Jogos Paralímpicos nasceram oficialmente em Roma em 1960, quando foram realizadas paralelamente aos Jogos Olímpicos tradicionais na capital italiana.

Uma das melhores atletas paralímpicas britânicas no Reino Unido, Tanni Grey-Thompson, acredita que todas as pessoas com deficiência estão de uma forma ou de outra em dívida para com o médico alemão:

"Ele estava convencido de que tínhamos de viver uma vida normal. Ele persistiu com a sua ideia, num um momento em que as pessoas provavelmente o consideravam um pouco louco, por acreditar que as pessoas com deficiência poderiam ser fisicamente activas", disse à BBC  a 11 vezes medalhista de ouro paralímpica.


Caminho a percorrer

O sucesso dos Jogos em Londres há quatro anos, onde as bancadas estiveram cheias, teve um grande impacto sobre os meios de comunicação de todo o mundo, e mostrou o longo caminho que foi percorrido nas Paraolimpíadas.

Mas também definiu um desafio para organizações futuras, como está a acontecer no Rio de Janeiro.

 Os Jogos Paralímpicos de Verão de 2012 foram considerados os melhores de sempre. 


A "cidade maravilhosa" passou com sucesso os testes da cerimónia de abertura e do primeiro dia de competição, mas também são visíveis os problemas para atrair o público aos estádios, e a luta para alcançar maior exposição nos media.

Isso demonstra que, apesar do progresso que tem sido feito, algo impensável há 40 anos, há ainda um caminho a percorrer.

"Se lhes proporcionarmos o tratamento adequado desde o início, não só poderemos prolongar a expectativa de vida destas pessoas, mas que elas também possam ter vidas tão normais quanto uma pessoa sem deficiência" foi o pensamento do médico alemão, que morreu em 1980, expresso numa entrevista à BBC.

Um conceito que, para ser alcançado, carece ainda do passo em direcção a um futuro em que não haja divisão entre Jogos Olímpicos e Paralímpicos, mas apenas Jogos, em que se apenas se fale de Desporto.



 Sir Ludwig Guttman

- Traduzido por nós do site da BBC

Vale a pena assistir aos vídeos desta playlist (há muitos outros no YouTube) sobre a vida e a obra de Sir Ludwig Guttmann*:


- * Mais um judeu que contribui para a "percentagem desproporcional de judeus em todas as organizações".
De facto, é verdade. Sendo os judeus apenas menos de 1 pessoa em cada 2 mil, há judeus que se distinguem em todas as áreas. Na nossa opinião, isso não é "suspeito", como dizem alguns. É apenas o resultado de uma cultura que valoriza o estudo e o serviço ao próximo.

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