terça-feira, 17 de junho de 2014

'Dantes havia cristãos no Iraque'

Há combates a 60 km de Bagdad, o que inquieta o governo iraquiano, Washington e Teerão. Quem está no terreno tem preocupações mais imediatas. Os cristãos, para começar.

Cristãos iraquianos assistem à missa véspera de Natal na igreja caldeia de São José, em Bagdad, 24 de Dezembro, 2013. (Reuters) 
Porque estarão os cristãos iraquianos a fugir? O Estado Islâmico do Iraque e da Síria quer criar um Estado islâmico governado pela Sharia. Sendo o Islão a religião mais pacífica e tolerante do mundo, não deveriam eles estar descansados em suas casas? Será que eles são uns islamofóbicos que não ouvem as sábias lições de moral da Isabel G.? Será que não lêem os livros e os artigos das jornalistas do Público? Será que desconhecem as prédicas do xeque David Munir?
Ou será que eles vêem o que a Sharia é, com os seus próprios olhos, e sabem que a narrativa dominante está errada?

"Os cristãos iraquianos fogem de suas casas devido à pressão dos militantes"
Associated Press, 16 de Junho de 2014


Cristãos iraquianos refugiados nas montanhas

    
Nos últimos dez anos, os cristãos iraquianos fugiram repetidamente para esta antiga aldeia de montanha, em busca de refúgio contra a violência, e  em seguida, voltaram para casa, quando o perigo diminuiu.
Agora estão a fazê-lo de novo, porque os militantes islâmicos avançam em todo o norte do Iraque. Desta vez, alguns dizem que não voltarão para suas casas.
(...) A comunidade cristã do Iraque é quase tão antiga como a própria religião, mas foi devastada, desde a invasão de 2003 liderada pelos EUA. Durante os últimos 11 anos, pelo menos metade da população cristã fugiu do país, de acordo com algumas estimativas, para escapar de ataques frequentes de militantes sunitas contra os cristãos e as suas igrejas. (...)


O Mosteiro, em Alqosh é dos últimos redutos para onde os cristãos iraquianos podem fugir
 

    "Eu não vou voltar", disse Lina, que fugiu de Mosul com a sua família quando os militantes a tomaram, e veio para Alqosh, cerca de 50 quilómetros a norte.

    "Todos os dias íamos para a cama com medo", disse a mulher de 57 anos de idade, abrigada numa casa para pessoas deslocadas. "Em nossas próprias casas não tínhamos descanso". Como outros cristãos que fugiram, falou sob a condição de ser identificada apenas pelo primeiro nome, por temer pela sua segurança.
    Os cristãos estão a abandonar e a deixar vazias comunidades que remontam aos primeiros séculos da religião, incluindo igrejas caldeias, assírias e arménias. Na semana passada, cerca de 160 famílias cristãs - principalmente de Mosul - fugiram para Alqosh. (...)
    Alqosh, que remonta pelo menos ao século 1 a.C., é um amontoado de casas pintadas em tons pastel, situadas na base de uma alta colina escarpada, entre planícies e campos de trigo. A população da aldeia de 6000 pessoas é cerca de metade cristãos e metade curdos.
Localizada perto da zona autónoma curda do norte do Iraque, combatentes curdos, conhecidos como peshmerga. mudaram-se para a cidade para a proteger.

    
Muitos cristãos estão a optar pelas regiões curdas, relativamente liberais e prósperas, como a aposta mais segura.

    
"Todos os cristãos preferem ficar no Curdistão", disse Abu Zeid, um engenheiro. Ele também disse que não volta para Mosul.

    
"É uma pena, porque Mosul é a cidade mais importante para os cristãos no Iraque", acrescentou. Mosul é dito ser o local do sepultamento de Jonas, o profeta, que a tradição diz que foi engolido por uma baleia.

   O
Iraque teria mais de 1 milhão de cristãos antes da invasão de 2003 e da deposição de Saddam Hussein. Agora, estima-se que apenas 450.000 permanecem dentro das fronteiras do Iraque. Os cristãos são alvo de repetidas investidas dos islamistas em Bagdad e no norte. O cardeal católico caldeu foi sequestrado
e morto por extremistas em 2008. Igrejas de todo o país foram bombardeadas repetidamente.

    
O êxodo de Mosul - uma cidade de maioria sunita que durante a presença americana no Iraque foi um reduto da Al-Qaeda - foi ainda mais dramático. De uma população pré-2003 de cerca de 130.000 cristãos, ficaram apenas cerca de 10.000, antes de os combatentes do Estado Islâmico invadirem a cidade há uma semana.

    
Abu Zeid estimou que agora apenas 2.000 cristãos permanecem na cidade.

    
"Eles não têm futuro aqui", disse George Demacopoulos, o director do Centro de Estudos Cristãos Ortodoxos na Universidade Jesuíta de Fordham, em Nova Iorque.

    
"Não há solução de curto prazo", disse ele em entrevista por telefone. "Eu acho que a única receita para uma solução a longo prazo é uma espécie de estabilização política da região levada a cabo sem força militar".

    
Os cristãos que não deixaram o Iraque muitas vezes fogem de suas casas para outras partes do país, quando o perigo é maior, na esperança de retornar mais tarde.

    
Boutani, o presidente da câmara, disse que esta foi a sexta vez em 11 anos que os cristãos de outras áreas vieram para Alqosh em busca de refúgio. Ele próprio fugiu para aqui, vindo de Bagdad, em 2009, após um bombardeio da igreja na capital.

    
Esta é a terceira vez que Adnan, 60 anos, proprietário de uma sapataria em Mosul, busca abrigo em Alqosh. Veio pela primeira vez em 2008, após um padre em Mosul ter sido morto. Veio novamente em 2010, após boatos de um ataque iminente sobre os cristãos. Ele e a sua família retornaram depois de as autoridades de segurança iraquianas garantirem a segurança dos cristãos.

    
"Eles disseram: vamos protegê-los", lembrou. "Mas agora - onde está o governo?".

    
O Vaticano há anos que manifesta preocupação com a fuga de cristãos do
Médio Oriente, expulsos pela guerra, pobreza e discriminação.

 Papa Francisco I na  Jordânia
    Durante a sua recente viagem à Jordânia, o Papa Francisco encontrou-se com  cristãos iraquianos e sírios, e denunciou as guerras, armas e conflitos que os obrigaram a deixar as suas casas. 
"Todos nós queremos a paz!" - disse Francisco a um grupo de refugiados perto do rio Jordão. "Eu pergunto-me: quem está a vender armas a estas pessoas para fazerem a guerra?"

- Temos apontado diversas vezes o financiamento (assumido, público) de Obama aos jihadistas na Síria e no Egipto. Mas Hillary Clinton não deixa os seus créditos por mãos alheias - ainda hoje, saiu a notícia dos mísseis vendidos por Hillary e usados para abater um helicóptero norte-americano.

Frei Gabriel Tooma
    Em Alqosh, os recém-chegados e os moradores reúnem-se em oração na missa dominical na Igreja caldeia da Virgem Maria da Colheita, realizada por Frei Gabriel Tooma.

    
No piso da igreja foi espalhado um mosaico feito de feijão, lentilha, trigo e outros produtos da área, reunidos para comemorar a próxima colheita. Antes do serviço, voluntários apressaram-se para terminar as imagens de Jesus e de Maria, e foram preenchendo os detalhes do rosto do Papa Francisco, esboçado com feijão branco.

    
"As pessoas têm medo do que está para vir", disse Tooma. "Temo que chegará em breve o dia em que as pessoas vão dizer: 'Dantes havia cristãos no Iraque'".


Visitantes do Mosteiro, em tempo de paz.
    Enquanto caminhava com a sua esposa e filha pelo mosteiro de S. Hormoz, do século VII, construído na colina com vista para Alqosh, Abu Zeid disse que foi a Mosul na sexta-feira, para ver se a sua casa ainda estava de pé.

    Alguns dos militantes no controle da cidade tentaram mostrar que os cristãos eram bem-vindos.

    Homens armados pararam e perguntaram-lhe se ele era cristão, disse Abu Zeid. Quando ele acenou com a cabeça que sim, um homem armado disse-lhe: "Bem-vindo à sua casa".
- O Islão encoraja cada muçulmano a fazer a sua própria interpretação do Alcorão. É um aspecto muito louvável dessa religião. Por outro lado, infelizmente, não há uma condenação unânime da violência por parte dos respectivos clérigos. Uns condenam-na, outros, exortam os muçulmanos a praticá-la. De vez em quando chegam notícias de clérigos muçulmanos assassinados por repudiarem a jihad. Neste sábado, dia 14 de Junho de 2014, este mesmo grupo terrorista que está a ameaçar a soberania da Síria e do Iraque, executou 12 imãs que se recusaram a prestar-lhe lealdade. Foi na cidade iraquiana de Mosul.

Peregrinos cristãos para Alqosh. Podiam bem ser senhoras portuguesas em visita a Fátima.
    A igreja caldeia de Mosul foi saqueada, disse ele, e viu homens armados arrastarem os ladrões da igreja e mandarem-nos devolver os bens roubados.

    Ele e os outros cristãos deslocados duvidam das manifestações de boa vontade. Ainda assim, alguns disseram que não têm escolha a não ser voltar.

    "Tenho 60 anos de idade", disse Adnan, o vendedor de sapatos. "Seria difícil começar tudo de novo".


Haverá  futuro para os cristãos no Médio Oriente?

Ore por eles.

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